terça-feira, 13 de setembro de 2011

ROCK ALVORADENSE

Imagem: Diego Müller
Alvorada ainda não revelou uma grande banda de rock para o cenário nacional, embora alguns músicos saíram da cidade e mostraram serviço. Mas isso não significa que não exista uma cena roqueira local. Lutando a duras penas, as bandas locais sempre estiveram em busca de um local para mostrar sua música. Analisando a cena local a partir de meados da década de 80 do século passado, vamos comprovar que sempre foi muito difícil mostrar o rock produzido em Alvorada. A Casa do Trabalhador é apontada como o embrião do rock produzido em Alvorada na segunda metade de 1980. A Casa era um espaço cultural situado na Av. Presidente Vargas, parada 50 onde, por volta de 1987, algumas bandas como Os Contra e Dupa Szasrana, faziam ensaios que eram considerados shows para o público freqüentador da Casa.

Mas, um ano antes, o público roqueiro começava a mobilizar-se pedindo, através de um abaixo-assinado com 570 assinaturas, junto a Sociedade União – clube social da cidade – shows de rock. Foi quando bandas consagradas no cenário porto-alegrense por aqui passaram, tais como: Replicantes, Os Eles, Engenheiros do Hawai e Júlio Reny & Expresso Oriente. Além das bandas de fora, ocorreram festas com a participação de bandas locais. Em 1987, o bar O Butikin vai tornar-se o ponto de encontro para os roqueiros. No início, o bar era apenas um local de venda de bebidas para o pessoal que se reunia na Casa do Trabalhador, mas, aos poucos, foi abrindo suas portas para que bandas locais mostrassem seus trabalhos. O bar abria o espaço, os músicos levavam o equipamento e bandas como Câmaras Mortuárias, Alcalóide e Dispersivos tocavam seus acordes, ou melhor, riffs. A cena estava criada, era preciso agora um grande evento.

Como a cena estava acontecendo, era preciso um grande evento. No dia 15 de fevereiro de 1987 ocorreu o Rock no Parque, organizado pelo Conselho de Cultura e com promoção de Ricardo Bolonha. O evento foi um sucesso. Chamadas de jornais e rádios diziam que o “rock passava por Alvorada naquele fim-de-semana”. Talvez por isso, 30% do público veio de fora da cidade. O evento reuniu os principais nomes da cena alternativa gaúcha como Justa Causa e Guerrilheiro Anti-Nuclear, além das bandas da cidade como Hagar e os Horríveis. O Rock no Parque teve até cobertura da TV. O final da década de 1980 era um momento em que surgiam muitas bandas gaúchas de postura contestatória (anarco-punk), era o auge dos Replicantes. Em Porto Alegre, tínhamos o Ocidente (casa de shows) e Vortex (Estúdio, Bar, Loja). Aqui em Alvorada, neste rastro, entrava O Butikin, devido à persistência do público, que transformou o local numa referência do rock independente, com a passagem de vários nomes do underground porto-alegrense. Não era raro a rádio Ipanema FM entrar ao vivo do Butikin para todo o Estado. Com o fechamento do Butikin, o espaço só foi suprido a partir dos anos 1990 com bares como Toscana, Woodstock e Manicômio, que abriram as portas para as bandas locais, a maioria cover, mostrarem o seu trabalho.

O poder público também foi pressionado a abrir espaço para o rock local. Em 1990, na comemoração dos 25 anos do Município, tivemos duas semanas com festas e eventos culturais na praça central. Aos sábados, o palco foi reservado para as bandas de rock, onde se apresentaram: Kaos, Rapeizes do Rock, Esfinge de Cristal, 4HP e Flanger; esta última, com até música tocando em rádio FM. A partir do ano 2000, a Feira do Livro e as comemorações de aniversário do Município tornaram-se a grande oportunidade para as bandas mostrarem seu trabalho mum espaço mais amplo e qualidade de som. Bandas como Fluxo Urbano e Eletro Acústica ocuparam o palco da Feira para grandes shows com público numeroso.

Muitas bandas procuraram criar espaços alternativos a partir de eventos conjuntos. Rock na Calçada, Ensaio de Rua (já passou de uma dezena de edição) e Castro Rock (realizado pelo Colégio Castro Alves) serviram de laboratório para bandas, que vão do reggae ao metal, passando pelo hard core e chegando ao blues da banda Ferro Velho. O rock de Alvorada sobrevive lutando por um espaço para consolidar a cena. Tivemos até o momento, locais sazonais e temporários, conquistados pela luta dos músicos e todos aqueles engajados na proposta de fazer crescer o rock na cidade. Mas o rock não parou em momento algum e continuará caminhando em busca de seu templo.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Diego Müller
Texto originalmente publicado no livro Raízes de Alvorada

8 comentários:

  1. Espero que o Bolonha tenha lido este texto!! Como sou novinho só me lembro de 1990 pra cá hehe! Mas acho que o Castro Rock teve uma importância muito grande e merece um texto só sobre este verdadeiro festival, que tive o privilégio de ajudar o Denilson a fazer.

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  2. Eu fui baterista das bandas Dispersivos, Eszfinge de Cristhal e V8, lendo esta matéria bateu uma saudade dos tempos do Bar Butikim, onde nos reuníamos para detonar um rock. O Bolonha sempre envolvido com as bandas, buscando espaço na cena rock. Eu vivi esta época. Bons tempos, parabéns pela matéria. Jimmy Freitas.

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  3. Oi Jimmy! Cara a Dispersivos era uma das bandas mais legais, puro rock'n'roll. O Bolonha está tentando montar algo para as bandas alvoradenses para ainda este ano. Valeu o comentário!

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    1. Para quem quiser curtir o som que a Dispersivos fazia nos anos 80, segue link.
      http://www.youtube.com/watch?v=hd4-E0XJuFA

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  4. Eu era o guitarrista das bandas Alcalóide e Dispersivos, meu nome é Lincoln. Bons tempos! Agora moro no RJ. Adorei o texto! Parabéns!

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  5. Também toquei na saudosa banda Flanger. Estou procurando o baixista, Robson e o baterista, Foguinho. Se alguém os conhecer, informe o meu e-mail: linc29@bol.com.br. Abraço aos velhos amigos!

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  6. Oi Lincoln! Lembro de você cara! Meu irmão tocou na Flanger e acho que com você, antes de ir para o RJ. O nome dele é Derimar, vulgo Alemão e também conhecido na época como He-man. Vou passar teu contato para ele. Abraços!

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