terça-feira, 31 de dezembro de 2013

SOMOS TÃO JOVENS

Arte de Marcelo Dolabella
Para quem, como eu, que milita na área dos fanzines, é normal a mistura das artes: música, cinema, poesia, protestos, quadrinhos etc. O filme de Antônio Fontoura é um pouco de tudo isso ao apresentar a biografia do lendário Renato Russo, um dos poetas do rock nacional e vocalista da cultuada banda Legião Urbana. Ao assistir ao filme lembrei de uma história que ainda não relatei em meus zines.

Atlântida Rock Sul Concert

Este evento foi um dos primeiros a mostrar a chamada “nova geração do rock nacional”. O evento, que depois acabou originando o hoje conhecido “Planeta Atlântida”, ocorreu durante um mês, com shows coletivos a cada sábado, num total de 4 noites, no Ginásio Gigantinho, em Porto Alegre. Na época, eu era um adolescente sem um centavo no bolso, e juntei uma grana que me possibilitou ir a uma das noites. Escolhi a que tocaria o Ultraje a Rigor, pois curtia direto o disco “Vamos Invadir Sua Praia”.

Mas vejam como são as coisas. Na mesma noite, quem abriu foi o Júlio Reni & Expresso Oriente, que depois se tornaria, para mim, uma referência. Na sequência, veio o Taranatiriça, uma das principais bandas de rock gaúcho dos anos 1980, e logo em seguida o Ira!, banda que hoje tenho como a melhor coisa que o rock nacional criou. Os caras sempre tiveram uma postura independente, sem deixar de trabalhar para o ‘mainstream’. Após o Ira! vieram uns caras de Brasília, a Legião Urbana e, sem querer, acabei vendo um dos primeiros shows da Legião fora de Brasília e, bom, o resto vocês conhecem a história. A noite encerrou com o Ultraje a Rigor.

O Filme

“Somos Tão Jovens” é muito bem produzido, cinematograficamente irretocável, mas o que me chamou atenção e faz do filme uma referência foi mostrar como a galera se mobilizava para fazer rock e se divertir. Para mim, que vivi esta época, foi como ver o meu filme passar, guardada as devidas proporções. O que a galera de Brasília fazia não foi diferente do que era feito em muitos cantos do Brasil, onde todos os jovens tinham que ter uma banda, fazer seus próprios cartazes e imprimir zines divulgando as bandas do cenário alternativo. O filme também procura mostrar, dando um desconto para as licenças poéticas, que as letras do Renato tinham um porquê de terem sido escritas. Por fim, achei interessante o recorte dado ao filme que termina quando a banda aparece para o Brasil.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Marcelo Dolabella (MG)

FERNANDA ABREU & J’QUEST

Arte de Paulo Fernando
Fernanda Abreu e J’Quest (no início de carreira a banda assinava desta forma) foram atrações do tradicional festival de canoagem que ocorre em Três Coroas/RS no dia 27 de setembro de 1997.

Quem começou a festa, sim, pois com estes shows extremamente dançantes, o ginásio virou uma festa, foi Fernanda Abreu. O show da moça é altamente competente, com uma banda de ótimos profissionais segurando o ritmo para Fernandinha rebolar da primeira a última música. Aliás, este show foi calcado em seu novo trabalho “Raio X” (a cantora subiu ao palco com um colar trazendo uma radiografia em alusão ao novo CD), e nele existe um momento intimista, conforme explica a cantora, e aí ela não rebola pois está com a ‘bundinha’ num banquinho. Feliz banquinho! No mais a de se destacar a excelente performance do guitarrista Fernando Vidal, principalmente no solo hendrixiano incluído na música “Rap Rio”. Pena que faltaram músicas do primeiro CD como “Speed Racer”.

Depois de 1h e meia de Fernandinha chegou a vez dos mineiros do J’Quest. Possuía um pré-conceito em relação a estes caras, mas quando começaram a tocar, senti que estava completamente enganado. O show do J’Quest é muito bom e recomendo para todos que curtem um som swingado a lá funk anos 1970. O som ‘black power’ é referencia obrigatória dos carinhas, que não perderam a oportunidade para reverenciar o cantor/ator Tony Tornado, o primeiro a aparecer na TV com um cabelão ‘black power’. No show, além dos sucessos da banda, covers, ou digamos assim, releituras de Roberto Carlos, Tim Maia (outro mestre para o J’Quest) e o soulman James Brown. Há de se destacar também o naipe de metais que acompanha a banda.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Paulo Fernando (CE)