Arte de Marcelo Dolabella |
Para
quem, como eu, que milita na área dos fanzines, é normal a mistura das artes:
música, cinema, poesia, protestos, quadrinhos etc. O filme de Antônio Fontoura
é um pouco de tudo isso ao apresentar a biografia do lendário Renato Russo, um
dos poetas do rock nacional e vocalista da cultuada banda Legião Urbana. Ao
assistir ao filme lembrei de uma história que ainda não relatei em meus zines.
Atlântida Rock
Sul Concert
Este
evento foi um dos primeiros a mostrar a chamada “nova geração do rock
nacional”. O evento, que depois acabou originando o hoje conhecido “Planeta
Atlântida”, ocorreu durante um mês, com shows coletivos a cada sábado, num
total de 4 noites, no Ginásio Gigantinho, em Porto Alegre. Na época, eu era um
adolescente sem um centavo no bolso, e juntei uma grana que me possibilitou ir
a uma das noites. Escolhi a que tocaria o Ultraje a Rigor, pois curtia direto o
disco “Vamos Invadir Sua Praia”.
Mas
vejam como são as coisas. Na mesma noite, quem abriu foi o Júlio Reni &
Expresso Oriente, que depois se tornaria, para mim, uma referência. Na
sequência, veio o Taranatiriça, uma das principais bandas de rock gaúcho dos
anos 1980, e logo em seguida o Ira!, banda que hoje tenho como a melhor coisa
que o rock nacional criou. Os caras sempre tiveram uma postura independente,
sem deixar de trabalhar para o ‘mainstream’. Após o Ira! vieram uns caras de
Brasília, a Legião Urbana e, sem querer, acabei vendo um dos primeiros shows da
Legião fora de Brasília e, bom, o resto vocês conhecem a história. A noite
encerrou com o Ultraje a Rigor.
O Filme
“Somos
Tão Jovens” é muito bem produzido, cinematograficamente irretocável, mas o que
me chamou atenção e faz do filme uma referência foi mostrar como a galera se
mobilizava para fazer rock e se divertir. Para mim, que vivi esta época, foi
como ver o meu filme passar, guardada as devidas proporções. O que a galera de
Brasília fazia não foi diferente do que era feito em muitos cantos do Brasil,
onde todos os jovens tinham que ter uma banda, fazer seus próprios cartazes e
imprimir zines divulgando as bandas do cenário alternativo. O filme também
procura mostrar, dando um desconto para as licenças poéticas, que as letras do
Renato tinham um porquê de terem sido escritas. Por fim, achei interessante o recorte
dado ao filme que termina quando a banda aparece para o Brasil.
Texto: Denilson
Rosa dos Reis
Ilustração: Marcelo Dolabella (MG)
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