terça-feira, 13 de setembro de 2011

NEI VAN SÓRIA ACÚSTICO

Denilson, Nei e Henrique

Nei Van Sória, fundador de duas fundamentais bandas do chamado Rock Gaúcho, trilha hoje uma respeitável carreira solo com seis discos e um DVD ao vivo. A carreira do músico (guitarrista), cantor e compositor, começou ainda na década de 1980, com a formação da banda TNT. Logo em seguida, junto com o vocalista Flávio Basso (Júpiter Maçã), criaram a visceral banda Os Cascavelletes. Ambas as bandas tiveram uma grande repercussão nacional, tornado-se ícones da formação da identidade do Rock Gaúcho.

Em meados da década de 1990, Nei começa uma sólida carreira solo com o lançamento do disco “Avalon” (1995). Depois veio “Jardim Inglês”, disco mixado em Nashville (EUA) com o clip da música que dá título ao disco, tendo sido gravada na Inglaterra. Van Sória lança ainda os discos “Cidade Grande”, “O Dia Mais feliz da Minha Vida”, “Só” (gravado ao vivo no Teatro Renascença/POA) e “Mundo Perfeito”. Lançou também um DVD ao vivo intitulado “Nei Van Sória – 40 Anos”, gravado no Bar Ocidente.

Tive a oportunidade de ver o show acústico de Nei Van Sória dia 18 de agosto de 2011, no Teatro do SESC, na cidade de Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre. O local foi perfeito para o show de Nei, que com uma formação básica (violão, baixolão, bateria e mais um teclado/sanfona), desfilou músicas de seus 40 anos de rock. Começou com duas clássicas do TNT: “Entra Nessa” e “Eu Tô na Mão”, para em seguida tocar músicas de sua carreira solo: “Susie”, “Só”, “O Dia Mais Feliz de Minha Vida” e “Jardim Inglês”. Também estiveram presentes as duas baladonas da época de Os Cascavelletes: “Sob Um Céu de Blues” e “Lobo da Estepe”. Nei ainda homenageou o Rock Gaúcho com “Pinhal” do Cidadão Quem e os 4 garotos de Liverpool em “We Can Work It Out”. Finalizou o show com “Suspicious Minds”, imortalizada na voz de Elvis Presley.

Texto: Denílson Rosa dos Reis

ROCK ALVORADENSE

Imagem: Diego Müller
Alvorada ainda não revelou uma grande banda de rock para o cenário nacional, embora alguns músicos saíram da cidade e mostraram serviço. Mas isso não significa que não exista uma cena roqueira local. Lutando a duras penas, as bandas locais sempre estiveram em busca de um local para mostrar sua música. Analisando a cena local a partir de meados da década de 80 do século passado, vamos comprovar que sempre foi muito difícil mostrar o rock produzido em Alvorada. A Casa do Trabalhador é apontada como o embrião do rock produzido em Alvorada na segunda metade de 1980. A Casa era um espaço cultural situado na Av. Presidente Vargas, parada 50 onde, por volta de 1987, algumas bandas como Os Contra e Dupa Szasrana, faziam ensaios que eram considerados shows para o público freqüentador da Casa.

Mas, um ano antes, o público roqueiro começava a mobilizar-se pedindo, através de um abaixo-assinado com 570 assinaturas, junto a Sociedade União – clube social da cidade – shows de rock. Foi quando bandas consagradas no cenário porto-alegrense por aqui passaram, tais como: Replicantes, Os Eles, Engenheiros do Hawai e Júlio Reny & Expresso Oriente. Além das bandas de fora, ocorreram festas com a participação de bandas locais. Em 1987, o bar O Butikin vai tornar-se o ponto de encontro para os roqueiros. No início, o bar era apenas um local de venda de bebidas para o pessoal que se reunia na Casa do Trabalhador, mas, aos poucos, foi abrindo suas portas para que bandas locais mostrassem seus trabalhos. O bar abria o espaço, os músicos levavam o equipamento e bandas como Câmaras Mortuárias, Alcalóide e Dispersivos tocavam seus acordes, ou melhor, riffs. A cena estava criada, era preciso agora um grande evento.

Como a cena estava acontecendo, era preciso um grande evento. No dia 15 de fevereiro de 1987 ocorreu o Rock no Parque, organizado pelo Conselho de Cultura e com promoção de Ricardo Bolonha. O evento foi um sucesso. Chamadas de jornais e rádios diziam que o “rock passava por Alvorada naquele fim-de-semana”. Talvez por isso, 30% do público veio de fora da cidade. O evento reuniu os principais nomes da cena alternativa gaúcha como Justa Causa e Guerrilheiro Anti-Nuclear, além das bandas da cidade como Hagar e os Horríveis. O Rock no Parque teve até cobertura da TV. O final da década de 1980 era um momento em que surgiam muitas bandas gaúchas de postura contestatória (anarco-punk), era o auge dos Replicantes. Em Porto Alegre, tínhamos o Ocidente (casa de shows) e Vortex (Estúdio, Bar, Loja). Aqui em Alvorada, neste rastro, entrava O Butikin, devido à persistência do público, que transformou o local numa referência do rock independente, com a passagem de vários nomes do underground porto-alegrense. Não era raro a rádio Ipanema FM entrar ao vivo do Butikin para todo o Estado. Com o fechamento do Butikin, o espaço só foi suprido a partir dos anos 1990 com bares como Toscana, Woodstock e Manicômio, que abriram as portas para as bandas locais, a maioria cover, mostrarem o seu trabalho.

O poder público também foi pressionado a abrir espaço para o rock local. Em 1990, na comemoração dos 25 anos do Município, tivemos duas semanas com festas e eventos culturais na praça central. Aos sábados, o palco foi reservado para as bandas de rock, onde se apresentaram: Kaos, Rapeizes do Rock, Esfinge de Cristal, 4HP e Flanger; esta última, com até música tocando em rádio FM. A partir do ano 2000, a Feira do Livro e as comemorações de aniversário do Município tornaram-se a grande oportunidade para as bandas mostrarem seu trabalho mum espaço mais amplo e qualidade de som. Bandas como Fluxo Urbano e Eletro Acústica ocuparam o palco da Feira para grandes shows com público numeroso.

Muitas bandas procuraram criar espaços alternativos a partir de eventos conjuntos. Rock na Calçada, Ensaio de Rua (já passou de uma dezena de edição) e Castro Rock (realizado pelo Colégio Castro Alves) serviram de laboratório para bandas, que vão do reggae ao metal, passando pelo hard core e chegando ao blues da banda Ferro Velho. O rock de Alvorada sobrevive lutando por um espaço para consolidar a cena. Tivemos até o momento, locais sazonais e temporários, conquistados pela luta dos músicos e todos aqueles engajados na proposta de fazer crescer o rock na cidade. Mas o rock não parou em momento algum e continuará caminhando em busca de seu templo.

Texto: Denilson Rosa dos Reis
Ilustração: Diego Müller
Texto originalmente publicado no livro Raízes de Alvorada