Arte de Gabriel Renner |
No
universo da música popular moderna e contemporânea, alguns artistas viraram
clássicos, mas outros viraram lendas. Normalmente as lendas são aqueles que
morreram para virar um mito, poucos se tornam lendas ainda em vida e os Rolling
Stones conseguiram esta façanha. Quando anunciaram a vinda dessa lenda para
Porto Alegre/RS pensei que não poderia ficar de fora, pois seria a oportunidade
de vê-los ao vivo.
Num
primeiro momento, ver os Stones seria algo de obrigação de qualquer roqueiro,
mas após a apresentação da banda no dia 02 de março de 2016 no Estádio
Beira-Rio, minha compreensão do que significa os Stones ao vivo mudou. Não era
mais ver uma banda que escuto há três décadas e que tenho gravado na memória
uma dezena de riffs guiterreiros. Ver os Stones foi ver um baita show de rock,
mesmo que em cima do palco estivessem quatro caras com setenta anos de idade, a
vitalidade deles foi algo inacreditável.
Quando
o relógio marcou 21h, ouviu-se uma voz anunciar: “The Rolling Stones”. Na
sequência veio o primeiro riff clássico da noite, “Jumpin Jack Flash”. No palco comecei a ver
Keith Richards, Ron Wood e Mick Jagger. Pela minha colocação na arquibancada,
quase rente ao palco na diagonal, não foi possível acompanhar Charlie Watts na
bateria, só quando Jagger o apresentou ao público e ele veio a frente do palco.
Ver essas lendas ali na minha frente foi algo mágico. Quando Jagger veio até a
lateral do palco e ficou frente a nós, vi minha esposa apontando para ele com
uma mão e com a outro segurando o queixo como quem diz “eu não acredito, é o
Mick Jagger”. Sim pessoal, esta foi a expressão do público ao ver essa lenda
viva do rock.
Durante
2h os Stones desfilaram clássicos da banda e, mesmo tocando músicas como “It’s
Only Rock’n’Roll (But I Link It)”, “Let’s Spend The Night Together”, “Paint It
Black”, “Honky Tonk Women”, “Star Me Up”, Miss You” e tantas outras, o certo é
que qualquer que fosse o setlist, sempre vai faltar alguma música para os fãs,
afinal 50 anos de carreira não são 5. Alguns momentos foram marcantes: em
“Gimme Shelter” a vocalista Sasha Allen soltou a voz e ganhou o público; em
“Sympathy For The Devil” tivemos um show de imagens personalizadas no palco e
telões.
Quem
acompanha a banda sabe de sua relação com o blues. O nome já é uma referência a
uma música do Mestre Muddy Waters. “Brown Sugar” certamente foi a mais esperada
pelos blueseiros que foram conferir os Stones. Ao assumir os vocais, Keith Richards
mandou ver no blues e fez uma dobradinha de guitarra com Ron Wood. Mick Jagger
fez os 48 mil espectadores do Beira-Rio cantarolar um blues num momento
espiritual de fazer arrepiar. Viva o Blues!
Durante
o show a chuva começou a apertar até que muita água começou a rolar. Num
primeiro momento todos ficaram apreensíveis, como ficará a apresentação. Mas,
quando Jagger viu o público interagindo mesmo “debaixo d’água”, sentiu que
deveria dar algo a mais. Por outro lado, o público vendo aquele senhor de 72
anos saracoteando independente da chuva que caía, fez com que o público
ovacionasse ainda mais a banda. No fim, a chuva criou uma simbiose entre banda
e público que só ressaltou a grandiosidade da apresentação.
No
bis, o Coral da Puc-RS subiu ao palco para acompanhar os Stones em “You Can’t
Always Get What You Want”. Genial isso! Muito bacana ver a preocupação da banda
em interagir com a cidade e com as pessoas onde eles vão tocar. Durante o show
Mick Jagger conversou em português em vários momentos e ainda brincou dizendo
que Ron Wood era gaúcho. Para encerrar, “(I Can’t Get No) Satisfaction” não
poderia deixar de ser a música escolhida. Não é a música que mais curto, mas
esperei mais de três décadas para gritar bem alto na frente dos Stones: “I
CAN’T GET NO SATISFACTION”.
Assista
aos Rolling Stones ao vivo em Porto Alegre clicando na imagem abaixo:
Stones, Honky Tonk Woman |
Veja
a galeria de fotos do show dos Rolling Stones em Porto Alegre clicando na
imagem abaixo:
Texto e vídeo:
Denilson Rosa dos Reis
Ilustração:
Gabriel Renner (RS)